Vou a uma festa africana. Familiar, mas efusivamente íntima e alargada, como só África sabe ser. Vou estar bem. Virei cedo. Amanhã é outro dia. Será novo ano, mas há continuidade. É primeiro só nos desejos que se formulam. Quando voltar a casa vou ouvir La Tarde es Caramelo de Vicente Amigo: Cerca del rio hay un sendero donde la tarde es caramelo, cerca del rio yo me pierdo, me encontraré cuando me encuentre com tus besos.
Doctor Unheimlich has diagnosed me with
Cura di séitis | |
Cause: | natural sign of ageing |
Symptoms: | excessive absenteeism, frequent American accent, black vomit, frequent abdominal pain |
Cure: | exercise |
Conheci um homem que sabia o horário dos comboios de cor e salteado, porque a única coisa que lhe dava alegria e satisfação era o caminho de ferro, e ele passava todo o seu tempo na estação, a olhar para as composições que chegavam e para as que partiam [...]. Mas ele, pessoalmente, nunca tinha entrado num comboio.
Mas quando, finalmente, acabou de contar todos os degraus da sua cidade, dirigiu-se à estação, foi à bilheteira, comprou um bilhete e, pela primeira vez na sua vida, entrou num comboio. Viajou para outra cidade e, também aí, se pôs a contar quantos degraus a cidade tinha. E depois, viajou pelo mundo inteiro para contar os degraus que contém. E assim, ficou a saber aquilo que mais ninguém sabe e que nenhum empregado pode ler num livro.
(Peter Bichsel, trecho do conto Homem com memória)
HAG, Storm force
Numa combinação algo forçada, os Doors e Franco Battiato (texto de Manlio Sgalambro) unem-se, com duas décadas de distância entre si, na mesma apreciação destes dias... estranhos.
Strange days have found us
Strange days have tracked us down
They're going to destroy
Our casual joys
We shall go on playing
Or find a new town
Yeah!
Strange eyes fill strange rooms
Voices will signal their tired end
The hostess is grinning
Her guests sleep from sinning
Hear me talk of sin
And you know this is it
Yeah!
Strange days have found us
And through their strange hours
We linger alone
Bodies confused
Memories misused
As we run from the day
To a strange night of stone
(The Doors, Strange Days)
**********
In nineteen fortyfive I came to this planet
Ascoltavo ieri sera un cantante uno dei tanti
e avevo gli occhi gonfi di stupore
I've seen many things in this part of the world
nel sentire: "il cielo azzurro appare limpido e regale"
let me tell you something
(il cielo a volte, invece, ha qualche cosa d'infernale).
Strani giorni viviamo strani giorni.
Cantava:
life can be short or long
sento un rumore di swing provenire dal Neolitico,
it depends
dall'Olocene.
where you go at night
Sento il suono di un violino
alone and walking alone through the grey sunday streets
e mi circondano l'alba
looking for someone
e il mattino.
the place was clean well lit
Chissà com'erano allora
I went in and I said I suppose I said
il Rio delle Amazzoni
whisky please
ed Alessandria la grande
the place was clean well lit
e le preghiere e l'amore?
two men in a corner were waiting
chissà com'era il colore?
I saw it from their hands
you look at the hands
not at the face
if you want to stay out of trouble
Mi lambivano suoni che coprirono rabbie e vendette
di uomini con clave
ma anche battaglie e massacri di uomini civili.
looking for someone
L'uomo neozoico
where you go at night
dell'Era Quaternaria.
strange days I lived through strange days
Nella voce di un cantante
si rispecchia il sole
ogni amata ogni amante.
Strani giorni viviamo strani giorni.
I've fallen into reverie
I dreamed a vague outline
the whisky flowed
sending me into the past
action roll the cameras
here comes a lighting tour of my life
the two in the corner didn't say a word
(Manlio Sgalambro, Strani giorni, in Franco Battiato, L'imboscata)
Life is a hard and agonizing flight
of migratory birds
to regions where you are alone.
And whence there's no return.
And all that you have left behind,
the pain, the sorrows, all your disappointments
seem easier to bear
than is this loneliness,
where there is no consolation
to bring a little confort to
your tear-stained soul.
Jaroslav Seifert
Não se vê a estação. Apenas um túnel escuro sob um viaduto, uma parede cinzenta, prédios uniformes, em que apenas um está colorido, e duas linhas de combóio. Nada mais. Nem estação nem combóio. O que nos traz uma nova cidade? Que novidades nos concede? Sabe-se apenas que há um caminho que rasga o cinzento anónimo e padronizado da cidade. É inevitável meter por ele adentro. Que realidades nos desvelará?
Na minha infância e adolescência houve a estação de caminho de ferro de Vilar Formoso, durante o período do Natal: de dia atravessávamos a linha para ir entregar o leite aos fregueses da outra «margem» ou quando íamos «a salto» a Fuentes de Onõro; de noite despertávamos com o uivo do Sud Expresso e o roncar da auto-motora. A casa da avó era escura e fria. Ainda hoje me lembro das noites de inverno: debaixo de pesadas mantas «de papa» e de olhos escancarados a rasgar o breu, ficava absorto a ouvir aquele rufar de motor entrecortado pelo bramido de um apito prolongado.
Dinner Party, painted by a Pacific Rim Artist