[71] Prémio Trilussa 2004 (ver posta 58): Eduardo Prado Coelho em «A língua, as culturas»
Comecei o dia bem cedo. Às 6.45 da manhã já estava na Estação do Oriente a bebericar o habitual café e a ler as primeiras letras do dia. A vida é dura, poderia pensar alguém. Mas para me aliviar das penas de existir, veio em meu auxílio «O fio do horizonte», coluna que Eduardo Prado Coelho assina no Público. A respeito do colóquio internacional sobre a língua portuguesa, lia-se a certa altura (repare-se na circularidade linguística e na repetição enfática de alguns termos):
[...] As múltiplas configurações linguísticas [...] não podem deixar de ter consequências na imagem e na realidade do português, na medida em que todo o contacto com o outro altera o mesmo, que deixa de ser o mesmo, para passar a identificar-se com o outro. Só que o outro está já a identificar-se com o mesmo e deste modo o mesmo vai já a caminho de ser outro. O resultado final nunca chega a ser final, porque os dois se vão aproximando em função de um terceiro que é a incógnita deste processo.
Foi ainda a muito decidida proclamação da importância fundamental do ensino pré-escolar. É nestas idades que tudo se começa a formar e que estruturas, hábitos, rotinas se vão instalando no sujeito, de forma a darem ao sujeito a sua capacidade de ser sujeito.
Agradeço a EPC por me ter conseguido arrancar uma gargalhada tão cedo pela madrugada. E se é verdade que os intelectuais também têm direito a dias duros e menos acertados, por outro lado, nunca pensei que uma página de apontamentos tirados durante o referido colóquio internacional - que EPC, aliás, «comissariou» (do verbo «comissariar») -, produzissem efeitos tão benéficos sobre o estado de espírito. Mas não foi Martin Heiddegger (1987, Carta sobre o Humanismo, Lisboa, Guimarães Editores, 33) quem disse que «no pensar, o ser tem acesso à linguagem», que «a linguagem é a casa do ser», que «nesta habitação do ser mora o homem, e que «os pensadores e os poetas são os guardas desta habitação»? E tão bem que EPC guarda esta habitação!
[...] As múltiplas configurações linguísticas [...] não podem deixar de ter consequências na imagem e na realidade do português, na medida em que todo o contacto com o outro altera o mesmo, que deixa de ser o mesmo, para passar a identificar-se com o outro. Só que o outro está já a identificar-se com o mesmo e deste modo o mesmo vai já a caminho de ser outro. O resultado final nunca chega a ser final, porque os dois se vão aproximando em função de um terceiro que é a incógnita deste processo.
Foi ainda a muito decidida proclamação da importância fundamental do ensino pré-escolar. É nestas idades que tudo se começa a formar e que estruturas, hábitos, rotinas se vão instalando no sujeito, de forma a darem ao sujeito a sua capacidade de ser sujeito.
Agradeço a EPC por me ter conseguido arrancar uma gargalhada tão cedo pela madrugada. E se é verdade que os intelectuais também têm direito a dias duros e menos acertados, por outro lado, nunca pensei que uma página de apontamentos tirados durante o referido colóquio internacional - que EPC, aliás, «comissariou» (do verbo «comissariar») -, produzissem efeitos tão benéficos sobre o estado de espírito. Mas não foi Martin Heiddegger (1987, Carta sobre o Humanismo, Lisboa, Guimarães Editores, 33) quem disse que «no pensar, o ser tem acesso à linguagem», que «a linguagem é a casa do ser», que «nesta habitação do ser mora o homem, e que «os pensadores e os poetas são os guardas desta habitação»? E tão bem que EPC guarda esta habitação!