[68] As festas
Vivemos tempos incompreensíveis. Tempo de paternalismo silencioso e tempo do culto da personalidade. A direita esbraceja aflita e magoada e responde com sarcasmo e agressividade. A esquerda oscila entre o silêncio institucional e a ostentação narcísica dos méritos do passado. À espreita.
A celebração, e as suas formas, em nada fica atrás de outras festas políticas já vistas... e tem direito a documentário biográfico e a cântico inicial evocativo das glórias pretéritas. Mas o pretexto da festa também parece ser outro: não só um jantar de aniversário, mas também um baile de debutantes, que recebem do patriarca a chancela de que há que dar confiança às safras mais novas...
Como se não bastasse, vislumbram-se Freitas, Guterres, Otelo, Sócrates, Pinto Balsemão... É também uma reunião ecuménica!
Na cabeça martelam-me as palavras de G. Steiner: «há na reconciliação, tal como na vinda do Messias, um nada da sombra de um certo tédio...».