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[201] Desporto nacional...

24.2.05
o país mediático, a blogosfera esperam - frementes - pelo primeiro deslize do primeiro-ministro, hoje indigitado pelo PR.

[200] Intervenção política: tapar buracos

Algures no Blasfémias encontrei a seguinte pérola, que cito de cor: «Ironia das coisas: os que cavaram o buraco são os que agora vão ter de o tapar!»

[199] quem recebe os royalties?

Imagine-se numa clínica da zona oriental de Lisboa:

1. Ecografia: gratuita
2. Cassete de vídeo: 2,24 euros
3. Gravação da ecografia para cassete de vídeo: 15 euros.

O movimento do dedo do técnico a carregar na tecla de «gravar» é da clínica, mas o filho é meu e a mulher é minha! Por que diacho hão-de os royalties ir para a clínica em questão?!

[198] Encarniçamento

A coisa já morreu no domingo passado, mas aqui , aqui e aqui ainda não se decidiram a fazer-lhe o funeral e deixá-la descansar em paz.

[197] Amina lança AnimaminA

23.2.05


O quarteto (de cordas) feminino Amina, que já trabalhou com os Sigur Rós durante muitos anos (tanto em estúdio como no palco), editou a 15 de Dezembro de 2004 um EP de quatro faixas (cerca de vinte minutos) intitulado Animamina. As 4 faixas são: Skakka, Hemipode, Fjarskanistan, Blaskjar. Música maravilhosa, hipnótica, com alma ( = Anima) ... Ontem, depois de almoço chegou-me o CD vindo da Islândia.

[196] Ainda o medo de existir

João Camilo, numa posta muito boa e Paulo Gorjão a lançar um desafio interessante (posta 245).

[195] Quando a psiquiatria é mal utilizada

Li, atónito, as palavras de Daniel Sampaio (DS) ao jornal A Capital, que o DN de hoje reporta (na coluna «Lido»). O famoso psiquiatra, referindo-se ao discurso de Pedro Santana Lopes (PSL) depois da hecatombe eleitoral da noite de domingo passado, faz o seguinte comentário:

«Santana e Portas: duas maneiras diferentes de reagir ao desaire eleitoral. No primeiro, o narcisismo patológico [os itálicos são meus] impediu-o, mais uma vez, de compreender a amplitude da rejeição (terei assim de voltar a falar nele, por mero interesse de caso clínico). Com este perfil de personalidade, jamais poderá ver para além de si próprio e cuidará de arranjar encenações “democráticas” para disfarçar e vender cara a derrota».

Faço uma premissa, que é declaração de interesses: não me move nenhuma simpatia por PSL, tal como também não me move nenhuma antipatia por DS. Parece-me, isso sim, que o primeiro já teve dose suficiente para perceber como estão as coisas em Portugal a respeito dele e que o segundo pode fazer bem melhor uso da sua competência em psiquiatria.

Em primeiro lugar, não vejo qual a relevância do comentário de DS. Mas tudo bem. Julgou necessário zurzir ainda mais no já derrotado PSL. Está no seu direito. Mas confesso que não reconheço sabedoria ou sequer acume em fustigar os vencidos. Se a vontade de 45,05% de portugueses já se exprimiu a respeito da figura política, para quê infligir no homem? Mas como digo, o irmão do presidente Sampaio lá terá as suas razões. E tem todo o direito em as publicar.

Vamos ao narcisismo patológico de PSL e ao mero interesse de caso clínico que PSL suscita em DS. O exercício da psiquiatria feito nas páginas de um jornal, quando o devia ser - na eventualidade do visado requerer os serviços de DS -, no segredo de um consultório? A que propósito? Quando DS fala de narcisismo patológico escreve como técnico de saúde mental e tem bem presente a categoria de diagnóstico a que se refere, portanto, é sua intenção visar, catalogando, a integridade de PSL, que tem direito a ter as perturbações que quiser sem que um iluminado lho venha atirar à cara a troco de nada, nem sequer do pagamento de honorários. É que a eventualidade de PSL ser um narcisista patológico só a ele lhe interessa e a mais ninguém. A não ser que a sua actuação como político ou como cidadão - narcisista patológico - viole a lei e, portanto PSL terá de ser punido por isso. Mas se assim não for não se percebe a relevância da etiqueta aplicada.

Mas o pior é o moralismo serôdio e a má ciência que se esconde por detrás das palavras de DS. Que diferença haverá entre PSL ser o que lhe chamou DS e PSL ser, eventualmente, um hipertenso ou um diabético? Nenhuma!! O modelo de diagnóstico é do foro médico e restringe-se a essa área! Se DS tivesse dito que «a hipertensão de PSL impediu-o de ...» estaria a fazer uma descrição do estado de saúde da pessoa. Mas aqui é que está o ponto. É que DS não faz uma mera descrição psicológica de PSL: cataloga-o e erige o rótulo que lhe aplicou a categoria ética (só tem interesse para DS como caso clínico!) e categoria moral (ser «um narcisista patológico» é qualquer coisa como os leprosos de antigamente, que deviam ser banidos do convívio social!). É precisamente este salto do descritivo para o ético e o moral que é serôdio e má ciência.

Quanto mais reflicto sobre o assunto mais me parece desatinado o artigo de DS. Não sei, aliás, se o código deontológico de médico e psiquiatra não o vincula a uma certa reserva (para não dizer silêncio) na divulgação de diagnósticos em público! Ainda para mais a quem não lho pediu nem lho pagou! É um mau uso, preconceituoso, da psiquiatria! Talvez DS se sinta entusiasmado com as arremetidas psicanalíticas com que José Gil fustigou PSL e o Portugal de hoje e, por isso, tenha decidido que também chegara a hora de dizer qualquer coisa. Isso mesmo, dizer qualquer coisa. Porque foi só isso: flatus vocis.

[194] a origem do mundo

17.2.05



Uma mulher deitada de costas
As pernas abertas, a vulva exposta

Em primeiro plano entre as coxas
Roliças e as nádegas espalmadas

Os pêlos do púbis densos como escamas -
Como linha do horizonte as suas mamas


(j. sousa braga, a ferida aberta)

[193] ... inventar uma vida



It's easy to invent a Life -
God does it - every Day -
Creation - but the Gambol
Of His Authority -

It's easy to efface it -
The thrifty Deity
Could sscarce afford Eternity
To Spontaneity -

The Perished Patterns murmur -
But His Perturbless Plan
Proceed - inserting Here - a Sun -
There - leaving out a Man -


(emily dickinson)

[192] O caminho não percorrido


(g. williams, illumination)

Two roads diverged in a yellow wood,
And sorry I could not travel both
And be one traveler, long I stood
And looked down one as far as I could
To where it bent in the under growth;

Then took the other, as just as fair,
And having perhaps the better claim,
Because it was grassy and wanted wear;
Though as for that, the passing there
Had worn them really about the same,

And both that morning equally lay
In leaves no step had trodden black.
Oh, I kept the first for another day!
Yet knowing how way leads to way,
I doubted if I should ever come back.

I shall be telling this with a sigh
Somewhere ages and ages hence:
Two roads diverged in a wood, and I -
I took the one less traveled by,
And that has made all difference
.

(robert frost, the road not taken)

[191] estima e estímulo

8.2.05
Há já algum tempo que aquele quadrado negro legendado com The End me surpreendia. Só ontem me chegou a confirmação: acabou. Pelo menos por enquanto. Aqui fica, pois, um post de estima e estímulo ao Xupacabras.



[martin vrabko]



MULHER

Metade mulher metade pássaro
Metade anémona metade névoa

Metade água metade mágoa
Metade silêncio metade búzio

Metade manhã metade fogo
Metade jade metade tarde

Metade mulher metade sonho


[jorge sousa braga (2001). a ferida aberta]

[190] escutar-se a si próprio




Prestar atenção ao outro implica [...] o hábito - mais ou menos experiente - de se escutar a si próprio. Escutar é, ao mesmo tempo, escutar-se a si mesmo e suspender o juízo [...] representado pela dimensão da expectativa. O ouvinte que sabe escutar, sabe escutar-se a si próprio e, sobretudo, sabe esperar.
[Duccio Demetrio (1998). Pedagogia della memória. Roma. Meltemi]

[189] os franceses são bons copains


Ora aqui está um instrumento que seria importante aplicar à realidade portuguesa para melhor a compreender. Trata-se de uma apresentação chiffrée et argumentée des modes de vie, des modes de consommation et des valeurs des Français en six grandes sections : individu, famille, société, travail, loisirs et argent.
E se alguma coisa queremos imitar dos franceses, que seja esta forma, útil, de aplicar as ciências humanas, neste caso a sociologia, à realidade nacional. Teríamos uma Portugoscopia em vez das generalizações que, amiúde, (veja-se o caso recente de Portugal, hoje. O medo de existir) algum profeta da desgraça nos propina como verdade coada pela racionalidade analítico-antropológico-filosófico-etnográfico-equemmaistivermaisacrescente...

Todos (!!) sabemos (!!) que o pessimismo é apanágio exclusivo (!!) do português, aquele tal que tem medo de existir e que não inscreve nenhum acontecimento (!!). Mas as coisas já não são o que eram. Eis que surge uma nova horda de pessimistas e de cansados de viver: os franceses!! (Alguém andou por lá e não se apercebeu!!).
Pois bem, segundo Gérard Mermet, o autor de Francoscopie 2005 : le point sur la vie et les avis des Français (Larousse), os franceses manifestam uma grosse fatigue sob a forma de uma enorme inquietude em relação ao futuro, que, no presente, assume a forma de uma autêntica crise de pessimismo. Afinal temos des copains da desgraça. Alguém se sente como nós. Se é que nós sentimos como se quer fazer crer que sentimos!

[188] sem imagem (V)

7.2.05

Não conheço nenhum grande poeta que não seja, ao mesmo tempo, um mestre gramático, um virtuoso da sintaxe, assim como não há sintaxe que não contenha uma visão do mundo, uma metafísica e também uma filosofia da morte. (G. Steiner)

[187] sem imagem (IV)


O POETA SÁBIO

É sábio hábil arguto informado
Porém quando ele escreve
As Mónades não dançam.


(Sophia de M.B.A. )

[186] sem imagem (III)

a simplicidade sem defesas é um luxo que não se pode esperar de toda a gente
(anne duperey, vamos juntos ver mais longe?)

[185] sem imagem (II)

Não podíamos ouvir nem ver aqueles que nos faziam nem o que nos fazia, nem como isso se fazia, antes de sermos. Acontece que os homens esquecem que não são antes de serem. (pascal quignard, as sombras errantes)

[184] sem imagens (I)

Ninguém salta por cima da sua sombra.
Ninguém salta por cima da sua origem.
Ninguém salta por cima da vulva da sua mãe.
(pascal quignard, as sombras errantes)

[183] vem, vento, varre




Vem, vento, varre
sonhos e mortos.
Vem, vento, varre
medos e culpas.
Quer seja dia,
quer faça treva,
Varre sem pena,
leva adiante
paz e sossego,
leva contigo
nocturnas preces,
presságios fúnebres,
pávidos rostos
só cobardia.

Que fique apenas
erecto e duro
o tronco estreme
de raiz funda.

Leva a doçura
se for preciso:
ao canto fundo
basta o que basta.

Vem, vento, varre!

(adolfo casais monteiro)


[182] ... the end?

Quer isto dizer que acabou?
Não posso acreditar!
Aqui vai o meu mais veemente protesto!

[181] ... o suor do corpo

6.2.05

(adriana bombom no carnaval de são paulo)

o corpo.
os seus suores.
a nobreza estonteante.

[180] ... o suor da alma

(bryan martin, matrix)


O animal humano é muito preguiçoso, provavelmente muito primitivo nos seus gostos, ao passo que a cultura é exigente, é cruel, por força do trabalho que reclama. Aprender uma língua, aprender a resolver uma função elíptica, não é nada divertido. São coisas que só se aprendem com o suor da alma (g. steiner, barbárie da ignorância)


[179] a lentidão

(c. monet, o rio sena em argenteuil)

Nenhuma passagem de um lugar a outro a uma velocidade de cem milhas por hora nos poderá tornar mais fortes, mais felizes ou mais sábios. Há sempre no mundo mais coisas do que as que podem ver os homens, ainda que caminhem muito devagar; não as verão melhor por andarem mais depressa. As coisas realmente preciosas são uma questão de pensamento e de visão, não de velocidade. Uma bala não passa a ser boa por ser rápida e o ritmo lento não diminuirá um homem, que seja realmente um homem, uma vez que a glória deste não está no seu muito andar, mas no seu muito ser (adaptado de a. de botton em a arte de viajar, citando john ruskin)

[178] a imobilidade

(e. munch, manhã)

Ao contrário do que julga o senso comum, as coisas da vontade nunca são simples, o que é simples é a indecisão, a incerteza, a irresolução (j. saramago, o homem duplicado)

Escolher a dúvida como filosofia de vida, é como escolher a imobilidade como meio de transporte (y. martel, a vida de pi)

[177] poesia


poesia
é refazer o mundo, depois
do discurso devastador
do mercantilista


(d.m.turoldo, nel segno del tau)


[176] ... inda há rãs que vos tem medo!


Diz que as lebres, como gente,
um dia conselho houveram,
por não viver tristemente,
e afogar-se de repente
todas juntas resolveram.

Duas rãs, como soíam,
junto ao charco eram pastando,
adonde as lebres corriam;
e, do medo do que ouviam,
vão-se no charco lançando.

Uma lebre mais ladina,
que isto viu, teve-se quedo
e gritou pela campina:
- Tende mão, gente mofina,
que inda há rãs que vos tem medo!

(d. francisco manuel de melo, segundas três musas, carta v)


[175] A experiência religiosa (IV)

1.2.05

(matthias strobl, univers)


Na mente humana?
ou no universo?
ou num cume mais elevado
indistinto
ibi?
É, ele,

ou é a sua ausência?
É e não é,
entra
e sai do desejo
e da sua memória
entra
e sai do nome
e talvez da essência
[...]

(mario luzi, viaggio celeste e terrestre di simone martini)

[174] A experiência religiosa (III)


(Alfred Gockel, Biking in the Moonlight)

O impulso religioso não nasce do medo do desconhecido. O impulso religioso não nasce do medo, mas do desejo. É por isso que o empenho pessoal, os sentimentos, as paixões, as emoções e as preocupações pertencem de pleno direito à experiência religiosa, pois são parte inevitável e essencial do desejo humano. [L. Albacete (2002). God at the Ritz. Attraction to Infinity. Nova Iorque. Crossroad Publishing Company)

[173] A experiência religiosa (II)

[Alfred Gockel, Fun in the Sun V]

A experiência religiosa não é uma fuga deste mundo: é a sua afirmação. É um modo de pôr-se perante esta realidade e de considerá-la com ardente curiosidade. É uma atitude contemplativa perante tudo o que existe. Tal como o espanto de uma mãe que abraça o seu filho recém-nascido e, com esperança e alegria, diz: «Olha, o mundo!». Aquilo que conta é o espanto. [L. Albacete (2002). God at the Ritz. Attraction to Infinity. Nova Iorque. Crossroad Publisinhg Company)

[172] A experiência religiosa (I)

(Alfred Gockel, Fun in the Sun VIII)

A experiência religiosa não é directamente a experiência de uma realidade que está além deste mundo [...]. Tudo aquilo que eu vejo está neste mundo. É um modo de experimentar o mundo como sinal de uma realidade que está sempre para além de todos os limites [...] [L. Albacete (2002). God at the Ritz. Attraction to Infinity. Nova Iorque. Crossroad Publishing Company)



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