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[216] neurótico e divertido

16.4.05

é só carregar no botão!
(«roubado» ao no quinto dos impérios)

[216] Este corpo que somos

1. Talvez não nos questionemos sobre o que o nosso corpo experimenta. Ou apenas nos preocupemos com a revisão anual a que o submetemos para lhe permitir circular sem percalços. Ou talvez o consideremos um ilustre desconhecido remetido para a categoria dos pesos a suportar - mais um - numa vida abnegada e rotineira que nos vê protagonistas entre a casa, o trabalho e o caminho entre os dois.
2. Mas este corpo que somos, este corpo que temos, na sua realidade concreta e carnal, no «aqui e agora» da vida, é um símbolo que nos dá a posição exacta do homem no universo. O corpo é símbolo que une: o exterior com o interior; o que está em cima com o que está em baixo; a superfície com a profundidade.
3. Se formos homens e mulheres atentos é suficiente que observemos com atenção aquilo que o corpo faz, algumas das suas capacidades, para criarmos uma espécie de filosofia de vida corporal. Imagine-se, pois, uma espiritualidade corporal, passe o paradoxo, que orienta a nossa vida segundo cinco parâmetros, como as faces de um pentaedro.
4. O nosso corpo indica-nos, antes de mais, que façamos experiência da sua verticalidade. Somos o homo erectus, que, no seu endireitar-se primordial, se eleva do chão e afirma-se como ser que caminha, impelido pela energia interior do desejo, para o que está em cima, para o transcendente que dá sentido e engloba a existência.
5. O equilíbrio é outra experiência fundamental que o corpo nos convida a viver. Os primeiros passos da criança e o vacilar alquebrado do idoso são os extremos de uma parábola, ascendente e descendente, que diz urgência exterior de encontrarmos a nossa posição autónoma no mundo e imperativo interior de nos harmonizarmos ao nível psico-espiritual (os sentimentos, as cognições, os comportamentos, as motivações...).
6. O corpo coloca-nos também perante a experiência do respirar e do bater ritmado do coração, movimentos arcaicos e sempre renovados, que nos fazem sintonizar com o pulsar do próprio universo, aliás, com a vida do próprio Criador. Quantas vezes a eles nos ancoramos para o relaxamento ou para a oração!
7. Por fim, a experiência dos sentidos é o momento alto de uma espiritualidade corporal. O homem alienado «olha sem ver, escuta sem ouvir, toca sem sentir, come sem saborear, movimenta-se sem ter consciência física e inala sem se aperceber do cheiro ou da fragrância» (Leonardo Da Vinci). A espiritualidade corporal convida-nos a «sentir tudo de todas as maneiras» (Álvaro de Campos) e a proclamar com a nossa existência a oração do poeta:


obrigado Meu Deus por mais este espantoso
dia:pelos saltitantes e virentes espíritos das árvores
e um azul autêntico sonho celeste;e por tudo
o que é natural o que é infinito o que é sim

(eu que morri estou hoje vivo de novo),
e este é o dia de anos do sol;este é de anos
o dia da vida e do amor e asas:e do alegre
grande evento ilimitavelmente terra)

como poderia saboreando tocando ouvindo vendo
respirando qualquer-erguido do não
de todo o nada-ser simplesmente humano
duvidar inimaginável de Ti?

(agora os ouvidos dos meus ouvidos despertam e
agora os olhos dos meus olhos estão abertos)

(e.e.cummings)

8. Há cuidado de si quando se cria uma saudável auto-pedagogia do corpo. Esta deverá implicar, pelo menos, os seguintes movimentos de crescimento: abolir o desprezo do corpo; superar o culto do corpo; recusar a indiferença em relação ao corpo; aliar-se ao corpo e aceitá-lo, fazendo dele um guia de vida espiritual - segundo os parâmetros já referidos -; usufruir das potencialidades do corpo e, por fim, mas mais importante de tudo, aprender a entregar o próprio corpo «ao amor, ao ardor, altruísmo e dedicação» (T. S. Eliot).

[215] To have someone to whom you feel you have something to say

15.4.05

alfred gockel


If you are lucky, lucky enough today
To have someone
To whom you feel you have something to say
Don't think it over, don't let them slip away
He read to her from his poetry
But that could never be enough to really make her see
So he climbed up high into a tree
And made the choice to turn into a leaf
If you are lucky, lucky enough today
To have found a love
To whom you feel you have something to say
Don't think it over, it's gonna be ok.
He read to her from his poetry
But that could never be enough to really make her see
So he climbed up high into a tree
And made the choice to turn into a leaf

My Love (música The Czars; letra John Grant)

[214] ... com atraso

Se este trabalho dos senhores czares já fosse meu conhecidos no ano passado, teria sido feito parte desta lista de preferências do Cura di Sé. Mas só o descobri este mês. Com atraso, é verdade... mas será alguma vez tarde para descobrir o portento que são a música e as letras de suas altezas imperiais?

[213] mario luzi (1914-2005)


os frutos quando estão maduros tombam maduros



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