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[236] o espanto

(Ricki Mountain, Sacred Cenotes)

Perguntou-me se eu sabia a resposta à questão: «Porque existo?»
Respondi-lhe que não. Sorriu-me. Sorri-lhe.
Perguntei-lhe se sabia a resposta à pergunta «Porque existes?»
Respondeu-me que não. Sorri-lhe. Sorriu-me.
Espantámo-nos com o nosso desconhecimento.
Perguntou-me: «Sabes se existes?»
Respondi-lhe que sim.
«Como?», insistiu.
«Porque me espanto!», disse eu, quase que ao acaso.
«Ah!», fez ela, abrindo a boca, surpreendida.
Silenciou.
Sorriu-me e disse: «Acabo de saber que existo!»

Muitas vezes, o problema não está na resposta encontrada. Pelo contrário. Amiúde, o que nos perturba é a pergunta que formulamos. A questão que indaga a existência é insuprível, mas também é do domínio do mistério e do não conhecido, que remete para o Transcendente.
Mas se atentarmos melhor, a pergunta nasce de um pressuposto: a constatação de que existimos. Só se questiona quem sabe que pode colocar a pergunta, ou seja quem já experimenta que existe.
Portanto, a pergunta não está primeiro. O questionar não é o motor, o primeiro agente de sentido. E, por isso, a resposta à pergunta «Porque existo?» não pode alicerçar a busca de significado para a existência. Primordial só pode ser o espanto de saber que existo. Na origem da busca de sentido para a vida não está um ponto de interrogação, mas um ponto de exclamação! E neste ponto de exclamação está a contemplação, o olhar de quem se põe frente à realidade de maneira gratuita e atenta.
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