[29] Reinventar a vida
Desconfio de quem propagandeia grandes reformas a nível macro. Na realidade, só considero possíveis as micro-reformas. Como diria C.S Lewis (ou seria Lapalisse?) «o que está em cima não se aguenta sem o que está em baixo». A eventual grande reforma só se aguenta se começar por uma reforma ao nível dos indivíduos e dos grupos mais pequenos, sendo que tem algo de intimamente pessoal e personalizável. Afirmo, neste sentido, o primado da pessoa como fulcro da mudança.
Vem esta conversa a propósito de um livro de cura di sé que propõe precisamente esta possibilidade de uma reforma que é, antes de mais, pessoal, centrada no sujeito e nas suas vivências. O convite é a que se reinvente a própria vida. Como?
A Schema Therapy de Jeffrey Young tem como postulado de base a existência de uma série de lifetraps (armadilhas existenciais: modos de pensar, de sentir, de agir e de nos relacionarmos connosco próprios e com os outros) que são uma espécie de guião dolorosamente ineficaz e repetitivo, que aprendemos em tempos precoces e fases cruciais da nossa existência, que se foram reforçando ao longo do tempo e que continuamos a recitar, com fidelidade, até ao dia em que tomamos consciência da necessidade de escrevermos um novo argumento mais eficaz e criativo, um novo guião existencial para a nossa vida. Numa palavra... a necssidade de reinventar a própria vida.
O livro Reinventing Your Life. The Breakthrough Program to End Negative Behavior... and Feel Great Again é a versão «popular» e auto-terapêutica da Schema Therapy. Começa por definir o conceito de lifetrap e compreender a sua etiologia, desenvolvimento, sintomatologia e dinâmica no contexto da vida da pessoa. Num segundo momento, dá sugestões ao leitor para que identifique qual a lifetrap em que predominantemente se encontra bloqueado. Por fim, propõe uma filosofia da mudança – a tal reforma de vida que acima referi – em que sugere, em concreto, como libertar-se das armadilhas existenciais que nos cristaliza em modalidades ineficazes e obsoletas de pensar, sentir e interagir com os outros
(continua).
As lifetraps ... belíssima ideia, a das vidas a remoer em esquemas fechados. Dispensa o psicólogo, decerto ! Vou ler.
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