[46] DOS RIOS (V). jorge l. borges
Somos o tempo. Somos a famosa
parábola de Heráclito, o Obscuro.
Somos a água, não diamante duro,
a que se perde, não a que repousa.
Somos o rio e somos esse grego
a olhar-se no rio. A sua imagem
muda na água do espelho entre as margens,
no vidro que varia, fogo cego.
Somos o rio vão, predestinado
rumo ao seu mar. De sombra está cercado.
Tudo nos diz adeus, tudo nos deixa.
A memória não cunha moedas lesta.
E no entanto há algo que ainda resta
e no entanto há algo que se queixa.
parábola de Heráclito, o Obscuro.
Somos a água, não diamante duro,
a que se perde, não a que repousa.
Somos o rio e somos esse grego
a olhar-se no rio. A sua imagem
muda na água do espelho entre as margens,
no vidro que varia, fogo cego.
Somos o rio vão, predestinado
rumo ao seu mar. De sombra está cercado.
Tudo nos diz adeus, tudo nos deixa.
A memória não cunha moedas lesta.
E no entanto há algo que ainda resta
e no entanto há algo que se queixa.
Franz Heigl, Down the River I