[210] ... do cair e do morrer
inês andrade, o pingo
O meu pai telefonou-me para dar a notícia do falecimento de um tio-avô. Juro que não sei o nome dele pois sempre o tratei por Tio Canário. Nem tampouco sei a origem da alcunha. Mas gosto deste nome afectuoso, colorido, sonoro. O tio Canário. Contrariamente, à alcunha, foi pessoa reservada. Mas nunca hostil ou amuado. Um homem simples, amante do trabalho, do campo, das plantas, da vida rotineira. A seu lado a tia Rosa. Canária. Eram os tios Canários. Sempre me surpreendeu o estilo de vida abnegado e humilde que levaram. Mas mais me admiravam quando, já com setenta anos, arrumavam a trouxa e preparavam o farnel e iam, de combóio, passar os domingos de verão à Figueira da Foz. Isso, à praia! Num ritual que já vinha de há muitos anos.
O funeral do Tio Canário é hoje na Carapinheira da Serra, arredores de Coimbra. Não vou estar presente. Aqui ficam estas palavras, assim, como quem chora um pouco.