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[133]... ficar ali eternamente, se quisesses

A beleza tranquila das ruas vazias ladeadas de árvores. Não a perturba nem te distrai dela a imobilidade ou o movimento dos corpos e dos rostos. Ninguém parece olhar-te das janelas fechadas, estás tranquilo. Ninguém encostado a uma porta para te observar e julgar, podes abandonar-te a sentir o que quiseres. As linhas e as cores invadem o teu espírito, aconchegam-se nele como num quarto quente. Caminhas lentamente, de vez em quando respiras fundo. A solidão não te pesa nem te dói. O passeio podia não ter fim. Se quiseres, se te apetecer, sentas-te no muro ou no passeio (porque não?) e ficas ali dez minutos a observar a geometria das casas, a maneira como os troncos das árvores se elevam da terra silenciosamente, para nossa alegria. Talvez então um rosto assome a uma janela, curioso ou inquieto. Talvez, quem sabe?
Sentas-te. Esticas as pernas, os braços, olhas à volta ou para o chão. Nenhum movimento ainda por detrás dos vidros das janelas protegidas por cortinas. Esqueces-te de pensar, esqueces-te de te preocupar, sentes que te invadiu uma grande paz interior. Olhas o céu lá em cima, cinzento. O ar frio na pele do rosto agrada-te, respiras fundo de novo. Quando baixas o olhar ele percorre lentamente a fachada das casas, as folhas, os ramos, os troncos das árvores. Recordações de outras casas, de outras árvores, de outros dias acenam fugidiamente, sem realmente se sobreporem a este instante. Podias ficar ali eternamente, se quisesses. Mas não queres. Estão à tua espera? Não sabes, não queres sequer pensar nisso. Cada coisa em seu tempo. Sim, talvez alguém espere por um telefonema teu, mas não interessa. A cidade ainda por descobrir basta-te.
Levantas-te, recomeças a caminhar, continuas a descobrir, passo a passo, a rua. Vais-te apoderando dela sem esforço, como se estivesses preparado para isso há muito tempo. As pessoas chegarão mais tarde com as suas inquietações, o seu nervosismo, a sua pressa, introduzindo-se sem maneiras no tempo que - pensam elas, seguras de si - lhes é devido. Repetes que não queres saber disso. Tens muito tempo, todo o tempo. Elas também têm muito tempo, não deviam inquietar-se.
Não se apressar, dizes para ti mesmo. Ou não o dizes, limitas-te a pensá-lo ou a senti-lo. Bruscamente sobes pelo muro e pisas com os pés a erva húmida. Que te importa a lama nos sapatos? Nada. A terra cede suavemente, com um ruído macio, debaixo dos teus passos. É como se te acariciasse ela também, com uma fraternidade antiga, conhecida. Metes as mãos frias nos bolsos. Continuas a caminhar, mas deixaste de pensar, sais do tempo. (João Camilo, Blue Everest).
EM BREVE CHEGARÁ A IMAGEM CORRESPONDENTE
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10:26 da tarde

He recordado esta canción leyendo el post de Blue Everest. Copio la letra aquí para los dos.

Solitude stands by the window
She turns her head as I walk in the room
I can see by her eyes she's been waiting
Standing in the slant of the late afternoon

And she turns to me with her hand extended
Her palm is split with a flower with a flame

Solitude stands in the doorway
And I'm struck once again by her black silhouette
By her long cool stare and her silence
I suddenly remember each time we've met

And she turns to me with her hand extended
Her palm is split with a flower with a flame

And she says "I've come to set a twisted thing straight"
And she says "I've come to lighten this dark heart"
And she takes my wrist, I feel her imprint of fear
And I say "I've never thought of finding you here"

I turn to the crowd as they're watching
They're sitting all together in the dark in the warm
I wanted to be in there among them
I see how their eyes are gathered into one

And then she turns to me with her hand extended
Her palm is split with a flower with a flame

And she says "I've come to set a twisted thing straight"
And she says"l've come to lighten this dark heart"
And she takes my wrist, I feel her imprint of fear
And I say "I've never thought of finding you here"

Solitude stands in the doorway
And I'm struck once again by her black silhouette
By her long cool stare and her silence
I suddenly remember each time we've met

And she turns to me with her hand extended
Her palm is split with a flower with a flame

(Suzanne Vega, solitude standing)    



4:54 da manhã

obrigado, small blue. bonito poema. tenho de confessar que nunca ouvi suzanne vega; mas vou procurar um cd em breve. :-)    



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