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[337] notas sobre a morte

1. O diagnóstico da P. foi implacável: ainda que numa fase incipiente, a sua mama direita tem cancro. Pela primeira vez na vida, uma notícia obriga as suas convicções existenciais profundas a fazerem um up grade, a evoluir numa determinada direcção: a sua vida, o seu corpo – a nossa vida, o nosso corpo – fazem parte de um movimento finito que tem na morte o momento culminante. Viu claramente à sua frente aquilo que, num livro recente [Senge, P., Scharmer, O., Jaworski, J. & Flowers, B. (2005). Presence. An Exploration of Profound Change in People, Organizations, and Society, Nova Iorque, Currency Books], alguém designa por cenário de requiem. Para a P. este cenário revelou-se um contexto importante de transformação pessoal: decidiu relacionar-se de maneira mais serena com os seus pais - com quem mantinha relações tensas e conflituosas -, redescobriu o valor da meditação como instrumento que favorece o sentido da vida, consolidou ainda mais os seus vínculos familiares e revelou-se aos amigos como mulher consistente e capaz de absorver o embate que a vida lhe estava a propor.

2. O cenário de requiem como contexto de transformação exprime-se na seguinte pergunta: «Se soubermos que amanhã (para a semana/daqui a um mês) morremos, o que muda, hoje, na nossa vida?». A perspectiva da morte anunciada a breve prazo que alterações traz à vida de uma pessoa? Para criarmos este cenário, porém, é necessário operarmos um desbaste prévio: desafiar a convicção inconsciente de que somos imortais, de que vamos andar por cá para sempre. O que não é nada fácil. É que ter a morte à nossa frente provoca um medo aterrador e a ilusão da imortalidade é uma defesa implacável contra ele.

3. Talvez seja por este motivo que ainda há quem se dedica ao exercício cego e leviano das intermitências da morte: imaginemos que a morte não existe… imaginemos que «no dia seguinte ninguém morreu» (primeira frase do último livro de José Saramago, As intermitências da morte). Paradoxalmente, a boa notícia é que a morte existe mesmo e que ser humano implica ser mortal. E que no dia seguinte há sempre alguém que morre. E que as nossas energias devem ser utilizadas não na negação da morte, mas na busca de um sentido para a vida. A P. precisou de um cenário de requiem, precisou da morte à sua frente para despertar. Precisou deste choque existencial para que a sua vida se transformasse. Não será o que todos nós precisamos?

4. Não é uma apologia da morte. A sua evidência ultrapassa defesas e oposições. É sim afirmar que o segredo da morte está na vida transformada pelo bem e pela beleza, numa vida concentrada no essencial, na redescoberta e actualização do que é realmente humano. E ser humano é ser capaz do Divino, do Eterno, do Vitorioso sobre todas as mortes. É receber a vida como um dom, para a entregarmos na morte com um sopro de agradecimento. Eu quero ser capaz de morrer assim.
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