[324] mal setembrino
Um mal tipicamente setembrino que afecta muita gente desprevenida é a «depressão pós-Verão». O trimestre Maio-Junho-Julho, na melhor das hipóteses, foi passado a projectar realisticamente o tempo de férias; mas na maioria - e no pior - dos casos, costumamos sonhar as férias como uma espécie de tempo de redenção de tudo o que não vivemos durante o ano: libertados das amarras da rotina profissional e familiar, sonhamos poder dedicar-nos aos livros que não lemos, aos lugares que não visitámos, à serenidade que não alcançámos, aos afectos que não nutrimos, aos relacionamentos que desleixámos. Projectamos, assim, em Agosto – o mês é uma verdadeira metáfora – a capacidade das férias nos devolverem aquele pedaço de paraíso perdido ao longo do ano. Mas Setembro, quando chega, traz consigo uma dose notável de desilusão aos incautos restauradores de paraísos: os livros foram deixados a meio, os lugares afinal não trouxeram o entusiasmo esperado, a serenidade desaparece assim que se deixa o local de trabalho, os afectos desesperaram por nutrimento e, sobretudo, os relacionamentos, não habituados a vinte e quatro consecutivas on line, entraram numa espécie de espiral de desafeição e ruptura. Chegou o mal setembrino.