[253] o naufrágio me é doce neste mar
Sempre caro me foi este ermo outeiro,
e esta espessura, que por tanta parte
do mais longe horizonte o ver me impede.
Mas sentado e olhando, intermináveis
espaços além dela, sobrehumanos
silêncios, e fundíssima quietude
na mente eu imagino; até que quase
o coração se assusta. E quando o vento
ouço bulir entre as ramagens, esse
infinito silêncio a esta voz
vou comparando: e considero o eterno,
mais as mortas idades, e a presente
e viva, e sua voz. Assim entre esta
imensidade o meu pensar soçobra:
e o naufrágio me é doce neste mar.
(giacomo leopardi, o infinito in mesa de amigos,
numa versão de pedro da silveira)