[154] Tríptico cultural: Teremos medo de existir?
I
É assim que procedem os intelectuais quando fazem crítica cultural: semeiam o medo e recolhem depois as consequências – são os aproveitadores da crise, sacerdotes em tempos neuróticos... [Peter Sloterdijk (1999). Ensaio sobre a intoxicação voluntária. Lisboa. Fenda)
II
Em Portugal, nada acontece [...]; Em Portugal, não há debate político [...]; Em Portugal, a arte não tem espaço público [...]; Em Portugal, a arte não entra na vida, não transforma as existências individuais[...]; Em Portugal, não há uma comunidade literária como não há uma comunidade artística ou científica [...]; Em Portugal, o espaço público falta cruelmente [...]; Em Portugal, nada mudou [...]; Em Portugal, os trabalhos académicos não circulam na opinião pública [...]; Em Portugal, o nível de conhecimento geral é extremamente baixo [...]; Em Portugal, o direito à cultura e ao conhecimento ainda não chegou ao sentimento da população [...]; Em Portugal, o medo, a reverência, o respeito temeroso, a passividade perante as instituições e os homens supostos deterem e dispensarem o poder-saber não foram ainda quebrados por novas forças de expressão de liberdade [...]; o Portugal democrático de hoje é ainda uma sociedade de medo [...]; Em Portugal, vivemos numa sociedade sem espírito crítico [...]; Portugal conhece uma democracia com um baixo grau de cidadania e de liberdade [...]; Em Portugal, não existe o fora [...]; Em Portugal, nada se inscreve, quer dizer, nada acontece [...]; Portugal é o país por excelência da não-inscrição [...]; Em Portugal, a lei não se cumpre, os programas não se realizam, não se pensa nunca a longo prazo, as fiscalizações não se fazem, a administração não se transforma realmente, os projectos de reforma não se executam, os governos não governam [...]; Em Portugal, nada tem realmente existência[...]; Em Portugal, nada tem efeitos reais [...]; Em Portugal...
O português revê-se no pequeno, vive no pequeno, abriga-se no pequeno e reconforta-se no pequeno: pequenos amores, pequenas viagens, pequenas ideias [...]; Os portugueses não sabem falar uns com os outros, nem dialogar, nem debater, nem conversar [...]; Os portugueses vivem do queixume, do ressentimento e são invejosos; Os portugueses...
É assim que procedem os intelectuais quando fazem crítica cultural: semeiam o medo e recolhem depois as consequências – são os aproveitadores da crise, sacerdotes em tempos neuróticos... [Peter Sloterdijk (1999). Ensaio sobre a intoxicação voluntária. Lisboa. Fenda)
II
Em Portugal, nada acontece [...]; Em Portugal, não há debate político [...]; Em Portugal, a arte não tem espaço público [...]; Em Portugal, a arte não entra na vida, não transforma as existências individuais[...]; Em Portugal, não há uma comunidade literária como não há uma comunidade artística ou científica [...]; Em Portugal, o espaço público falta cruelmente [...]; Em Portugal, nada mudou [...]; Em Portugal, os trabalhos académicos não circulam na opinião pública [...]; Em Portugal, o nível de conhecimento geral é extremamente baixo [...]; Em Portugal, o direito à cultura e ao conhecimento ainda não chegou ao sentimento da população [...]; Em Portugal, o medo, a reverência, o respeito temeroso, a passividade perante as instituições e os homens supostos deterem e dispensarem o poder-saber não foram ainda quebrados por novas forças de expressão de liberdade [...]; o Portugal democrático de hoje é ainda uma sociedade de medo [...]; Em Portugal, vivemos numa sociedade sem espírito crítico [...]; Portugal conhece uma democracia com um baixo grau de cidadania e de liberdade [...]; Em Portugal, não existe o fora [...]; Em Portugal, nada se inscreve, quer dizer, nada acontece [...]; Portugal é o país por excelência da não-inscrição [...]; Em Portugal, a lei não se cumpre, os programas não se realizam, não se pensa nunca a longo prazo, as fiscalizações não se fazem, a administração não se transforma realmente, os projectos de reforma não se executam, os governos não governam [...]; Em Portugal, nada tem realmente existência[...]; Em Portugal, nada tem efeitos reais [...]; Em Portugal...
O português revê-se no pequeno, vive no pequeno, abriga-se no pequeno e reconforta-se no pequeno: pequenos amores, pequenas viagens, pequenas ideias [...]; Os portugueses não sabem falar uns com os outros, nem dialogar, nem debater, nem conversar [...]; Os portugueses vivem do queixume, do ressentimento e são invejosos; Os portugueses...
Citações avulsas retiradas de José Gil (2004). Portugal, hoje. O medo de existir. Lisboa. Relógio de Água; mais galhardetes do género podem ser encontrados na revista Pública de domingo passado e, sobretudo, no último JL (José Gil, A audácia do filósofo).
III
- Senhor doutor, parabéns pela sua intervenção cirúrgica.
- O paciente, como está?
- O paciente morreu, mas a operação foi um êxito.