[119] Narrar a cidade: o pátio
[John Ruskin, A courtyard at Abbeyville (1858)]
Logo no primeiro instante há um fascínio que o pátio acende... Talvez pela antiguidade - é de finais do século XV -, talvez pela riqueza dos elementos - as janelas, a porta (e, por cima dela, a escada de madeira), a pipa, o arco, as pedras, os instrumentos de jardinagem, o nicho de Nossa Senhora, os vestígios de uma parreira... -.
Se eu passasse por aqui, numa manhã quente, veria uma cena familiar: uma manta estendida no chão, quadrada e abundante - o meu mundo de então -, com um rebento em panos de bebé, sentado no meio. Ladeia-o uma menina de cinco anos, com puxinho, de vestido branco curto, com dois bolsos, sapatos brancos e meias dobradas, da mesma cor. De pé, parecendo o homem de Vitrúvio, o pai: de mãos nas ancas, pernas alargadas e sorriso na boca, vestido de calças e camisa da mesma cor azulada. A mãe, de carrapito, bonita e exuberante, desce os dois degraus que, da cozinha, dão para o pátio: traz um vestido cor de rosa às florzinhas roxeadas e na mão uma locomotiva de brinquedo.
Dou-lhe um título: a manta no pátio.